Lenda do Pátio do Carrasco
Hoje vamos falar sobre a capital, Lisboa, e sobre uma das muitas lendas que assombram a cidade. Situado em frente ao Largo do Limoeiro, junto à antiga cadeia, está o Pátio do Carrasco, também conhecido como "O Negro", vamos falar um pouco sobre Luís dos Santos e mergulhar em mais uma lenda assustadora de Portugal.
No ano de 1806, numa família honrada e muito respeitada de Capeludos, nasceu um bebé de seu nome Luís António Alves dos Santos, seu pai Inácio Alves dos Santos e sua mãe Joana Bernarda Pimenta, garantiram que o seu filho tinha uma infância feliz junto da sua restante família.
Perto de 1822, Luís teria entre 16/17 anos, quando partiu para Lisboa, alistando-se na vida militar, que foi quando a sua vida começou a não correr tão bem, pois rapidamente notou que não estava enquadrado sobre a realidade que se vivia na capital e ficando acamarado com recrutas pouco atinados, não o ajudou. Certo dia aconteceu algo que mudaria a sua vida para sempre, um assassinato, durante um assalto a uma casa de gente rica no Campo Grande. Junto com alguns colegas, tornou-se refratário e regressou à sua província transmontana, vivendo como "fora-de-lei". Foi preso em Vila Pouca de Aguiar, onde respondeu por 18 crimes que lhe foram atribuídos, mas que ele sempre negou. Confessou sim, que matara por duas vezes, mas em legítima defesa.
Entre perseguições por parte de absolutistas e alistamento na cavalaria, ainda se viu misturados em "gangs", permaneceu numa situação de marginalidade, procurando sempre iludir as autoridades, até ser capturado de vez pela polícia, já com mais de 30 anos. (Existe um romance histórico e biográfico, escrito por Leite Bastos, de seu nome "O Último Carrasco", que detalha a vida de Luís dos Santos e que recomendo a leitura)
Em Junho de 1845, como refere Maria João Medeiros, em "Alamanaque do crime português" - 2021, que chegou a proposta: passar a matar (legalmente) para não ser morto. Terá sido a sua esposa a convencê-lo a se tornar, Executor de Alta Justiça - designação do carrasco real, uma função maldita e mal vista por todos, mas que Luís Alves aceita a fim de lhe ver comutada a pena de morte.
O apelido "O Negro", teve a ver com a sua pose austera, caminhando devagar e firme em direcção ao cadafalso, onde os criminosos e fora-de-lei, eram sentenciados e mortos à vista de todos numa praça pública. O carrasco vestia preto, de cima a baixo, um capuz igualmente preto que lhe tapava toda a cabeça, apenas um orifício para ver o que o rodeava. Os populares que iam assistir à morte por enforcamento ou por lâmina afiada começavam a afastar-se à sua passagem, reassumindo o seu lugar, entre o curioso e o receoso. Mesmo sem nunca ter executado ninguém, "O Negro" era fantasmagórico, tenebroso.
Como militar, Luís Alves, sempre foi considerado um homem valente, com três condecorações atribuídas, antes de se tornar refratário e de tornar a sua vida num inferno conturbado que o fez morrer só, repudiado pela família, esquecido, triste, pobre e doente de epilepsia e asma, a 18 de Agosto de 1873, num bairro em Vila Pouca de Aguiar e não se sabe ao certo, nem onde é a casa de família, nem onde se encontra sepultado.
Vamos agora à lenda:
Imagem de Artur Pastor
O Pátio do Carrasco situa-se em Lisboa, hoje bastante degradado, mas foi aqui que terá vivido temporariamente Luís António Alves dos Santos, conhecido como “o Negro”, que foi o último carrasco de Portugal.
A lenda conta que existe um túnel subterrâneo, que ia desde o Pátio do Carrasco à Prisão do Limoeiro, mesmo ao lado, e que seria usado para que o carrasco pudesse mais facilmente ir executar os seus deveres. A lenda conta também que, no local onde estaria essa passagem, ainda hoje se ouvem gritos, que seriam do próprio Luís, atormentado pelas mortes que causou.
Imagem por Eduardo Portugal
É aqui que esta lenda se torna difícil de defender e entender: é possível que Luís Alves nunca tenha executado ninguém. Dizem que quando foi encarregue de o fazer, em Tavira, deu ao seu imediato o dinheiro que tinha consigo, para que o substituísse. Na época os carrascos usavam capuz, era possível trocarem de lugar sem que ninguém se apercebesse.
Será que Luís grita atormentado pelas mortes que causou na juventude? O carrasco lutou ao lado dos absolutistas, no século XIX, e confessou ter matado dois homens em legítima defesa.
Imagem por Tozé Fonseca