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Vasculhar Lendas

Juntos vamos mergulhar nas maravilhosas lendas, para já de Portugal, por isso... Era Uma Vez ...

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Vasculhar Lendas

20
Nov22

Isabel de Aragão - Rainha Santa Isabel

Bri Atano

Estamos de volta, com talvez uma das mais conhecidas lendas de Coimbra, da sua padroeira, Isabel de Aragão, ou como ficou conhecida Rainha Santa Isabel. Existem com certeza muitas versões desta lenda, mas vou contar apenas uma, talvez a mais popular, mas para isso preciso que venham comigo até ao ano de 1271, para conhecer a lenda, precisamos de conhecer a protagonista. 

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 Era uma vez, num reino de seu nome Aragão, um reino cristão, onde o Rei D. Pedro II de Aragão e a sua esposa D. Constança de Hohenstaufen, princesa da Sicília, estavam à espera do seu primeiro bebé. Entre os meses de Janeiro e Fevereiro de 1271, não existe certezas aquando do dia ou mês, nascera Ysabel, a primeira herdeira da família. Ouvira-se que a princesa, havia nascido envolta numa pele que mostrava a sua conexão com o divino.  

Isabel, cresceu em Barcelona junto com a corte real, incluindo os seus cinco irmãos mais novos entre eles soberanos de renome como, Afonso III, o Franco, Conde de Barcelona e Rei de Maiorca, Jaime III, o Justo, Rei de Aragão e Frederico II, Rei de Sicília.  

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Era 1281, quando Isabel se vê casada com D. Dinis de Portugal, um casamento de interesses que se realizou na Capela de Santa Ágata no Palácio real de Barcelona. O seu casamento com o rei D. Dinis teve dois filhos, e a 3 de janeiro de 1290 nasceu o primeiro bebé, Constança, que se viria a casar em 1302 com o rei Fernando IV de Castela. Era 8 de Fevereiro de 1291 que nasceu o sucessor de D. Dinis ao trono de Portugal, D. Afonso IV. 

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Foram-se passando os anos e segundo se constava na altura, D. Dinis não lhe teria sido inteiramente devoto e visitara regularmente as freiras do Convento de Odivelas, futuramente renomeado para Mosteiro de São Dinis. Certa noite ao saber do sucedido, a rainha tê-lo-á seguido com as suas aias à noite, iluminando o caminho com archotes, e ao encontrá-lo apenas terá dito: 

 “Ide vê-las, ide vê-las, que estamos a alumiar o caminho" 

Com os tempos, de acordo com a tradição popular, uma corruptela de ide vê-las teria originado o moderno topónimo Odivelas e alumiar teria passado a Lumiar, a zona onde se teria encontrado o casal real. 

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Certo dia, a rainha saiu do Castelo de Leiria numa manhã de Inverno para distribuir pães aos mais desfavorecidos, um ato totalmente proibido. Surpreendida pelo soberano, que lhe inquiriu onde ia e o que levava no regaço, a rainha teria exclamado:  

“São rosas, Senhor!”  

Desconfiado, D. Dinis inquiriu:  

“Rosas, em janeiro?” 

Isabel expôs então o conteúdo do regaço do seu vestido e nele havia rosas, ao invés dos pães que ocultara.

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Além de ajudar os pobres, Isabel teve também um papel importante no que tocava manter a paz, em 1320 visitou o Principado da Catalunha, onde já teria estado aquando da viagem para se reunir com o rei português em 1282. Voltaria a visitá-lo em 1325, já viúva. 

Nesta década de 1320, o infante D. Afonso, herdeiro do trono, sentiu a sua posição ameaçada pelo favor que o rei D. Dinis demonstrava para com um seu filho bastardo, Afonso Sanches. O futuro D. Afonso IV declarou abertamente a intenção de batalhar contra o seu pai, o que quase se concretizaria na chamada peleja de Alvalade. No entanto, a intervenção da rainha conseguiu serenar os ânimos – pela paz assinada em 1325 nessa mesma povoação dos arredores de Lisboa, foi evitado um conflito armado que teria instabilizado o reino. Dinis morreu em 1325 e, pouco depois da sua morte, Isabel terá peregrinado ao santuário de Santiago, em Compostela na Galiza, fazendo-o montada num burro, e a última etapa a pé, onde ofertou muitos dos seus bens pessoais.

Recolheu-se por fim no então Mosteiro de Santa Clara-a-Velha em Coimbra, vestindo o hábito da Ordem das Clarissas mas não fazendo votos (o que lhe permitia manter a sua fortuna usada para a caridade). Só voltaria a sair dele uma vez, pouco antes da morte, em 1336. 

Nessa altura, Afonso declarou guerra ao seu sobrinho, o rei D. Afonso XI de Castela, filho da infanta Constança de Portugal, e, portanto, neto materno de Isabel, pelos maus tratos que este infligia à sua mulher D. Maria, filha do rei português. Não obstante a sua idade avançada e a sua doença, a rainha Santa Isabel dirigiu-se a Estremoz, cavalgando na sua mula por dias e dias, onde mais uma vez se colocou entre dois exércitos desavindos e evitou a guerra. No entanto, a paz chegaria somente quatro anos mais tarde, com a intervenção da própria Maria de Portugal, por um tratado assinado em Sevilha em 1339. 

Isabel faleceu, tocada pela peste, em Estremoz, a 4 de julho de 1336, tendo deixado expresso em seu testamento o desejo de ser sepultada no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, onde em 1995 foi iniciada uma escavação arqueológica, após ter estado por 400 anos parcialmente submerso pelo rio Mondego. Sendo a viagem demorada, havia o receio de o cadáver entrar em decomposição acelerada pelo calor que se fazia, e conta-se que a meio da viagem debaixo de um calor abrasador, o ataúde começou a abrir fendas, pelas quais escorria um líquido, que todos supuseram provir da decomposição cadavérica. Qual não foi, porém a surpresa quando notaram que em vez do mau cheiro esperado, saía um aroma suavíssimo do ataúde. 

 

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Regressemos agora ao dia de hoje, Isabel terá sido uma rainha muito piedosa, passando grande parte do seu tempo em oração e ajuda aos pobres. Por isso mesmo, ainda em vida começou a gozar da reputação de santa, tendo este fama aumentado após a sua morte. Foi beatificada pelo Papa Leão X em 1516, vindo a ser canonizada, por especial pedido da dinastia filipina, que colocou grande empenho na sua canonização, pelo Papa Urbano VIII em 1625. É reverenciada a 4 de julho, data do seu falecimento. 

Com a invasão progressiva do convento de Santa Clara-a-Velha de Coimbra pelas águas do rio Mondego, houve necessidade de construir o novo convento de Santa-Clara-a-Nova no século XVII, para onde se procedeu à trasladação do corpo da Rainha Santa. O seu corpo encontra-se incorrupto no túmulo de prata e cristal, mandado fazer depois da trasladação para Santa Clara-a-Nova. 

No século XVII, a rainha D. Luísa de Gusmão, regente em nome de seu filho D. Afonso VI, transformou em capela o quarto em que a Rainha Santa Isabel havia falecido no castelo de Estremoz. 

 

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Uma história mais aprofundada poderá ser encontrada em Rainhas de Portugal - Isabel de Aragão - A Monarquia Portuguesa (sapo.pt) 

 

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